Primeira Guerra, estipulou pesados pagamentos de reparação para a Alemanha de forma a compensar os paises aliados pelas despesas e destruição provocadas pela guerra. A decisão sobre estes pagamentos foi analisada por Keynes no “As conseqüências econômicas da Paz”.
A Alemanha passa a ter uma dívida externa desproporcional a sua capacidade de pagamento.
No período posterior ao fim da Guerra a Alemanha passa a ter imenso déficit público, decorrente dos gastos militares da guerra aumentado pela dívida externa. A inflação é alta.
No ano de 1923, a taxa de inflação muito alta, cresce rapidamente e atinge um máximo em outubro deste ano, quando após um acordo de refinanciamento da dívida externa, a taxa de cambio é estabilizada e a inflação termina abruptamente.
É um período dramático. A economia alemã chega à paralisia total, com problemas de abastecimento e até de sobrevivência dos alemães. Erich Maria Remarque tem um romance que descreve o período.
A hiperinflação atingiu vários países da região que se chamava de Europa Oriental—Tchecoslováquia, Hungria, Áustria e Polônia. Países que tem características comuns: alguns são estados novos decorrentes do desmantelamento do Império Austro Húngaro, como a Tchecoslováquia e a Hungria. Todos estavam sob a influência do marco alemão.
O episódio é importante para entender a inflação, um dos temas deste curso.
A ocorrência simultânea de hiperinflação e pesada dívida externa lembra imediatamente o período de superinflação de vários países da América Latina após a crise da dívida externa em 1982. Brasil, Argentina, Chile e outros países apresentaram taxas de inflação muito altas e crescentes. Apenas a Argentina chegou ao que se pode chamar de hiperinflação—uma taxa de inflação tão alta e tão crescente que paralisa completamente as compras e vendas de qualquer coisa.
O trabalho clássico sobre a hiper alemã é de Bresciani Turoni. No curso analilsaremos o trabalho de Cagan, da Universidade de Chicago , citado na bibliografia e a tese de doutorado do Gustavo Franco que critica a tese de Cagan.
Bresciani Turoni e Cagan atribuem o controle súbito e bem sucedido da hiperinflação a reforma fiscal que acaba com o déficit público alemão. Franco explica o fim da hiperinflação a estabilização da taxa cambial do marco alemão.
A tese de Cagan. Cagan estuda a demanda de moeda e este é o foco principal da sua tese. A hiper alemã oferece um laboratório adequado para estimar a demanda de moeda: a renda alemã é estável e a taxa nominal de juros (igual à taxa de inflação mais a taxa de juros real) é extremamente variável.
Estima a taxa de juros nominal ou a taxa de inflação esperada usando expectativas defasadas. A inflação esperada é dada por uma média móvel ponderada com pesos exponencialmente decrescentes das inflações passadas. A partir destas expectativas conclui que existe uma demanda de moeda negativamente inclinada com relação à inflação esperada. A tese foi premiada à época.
A partir desta demanda de moeda estima a curva de receita total do imposto inflacionário. Como estimou demandas lineares ou log lineares, a curva de receita total decorrente é uma parábola com um ponto de máximo.
Usando suas próprias estimativas mostra que os países que tiveram hiperinflação estavam além do ponto de máximo na curva de receita do imposto inflacionário. Como a curva de receita total é uma parábola, a mesma receita total de imposto inflacionário pode ser obtida com duas taxas de inflação: uma taxa mais baixa e outra mais alta. Os paises com hiper inflação recolhiam o imposto inflacionário com esta taxa mais alta e maior do que a que gerava o ponto de máximo. Conclui que “haviam ultrapassado” o ponto de máximo e que a procura por mais imposto inflacionário aumentava a taxa de inflação, mas reduzia a receita, levando a hiper. A reforma fiscal e o fim do déficit público permitiram o fim da hiperinflação.
Franco contra argumenta usando as mesmas estimativas de Cagan.
A curva de receita total do imposto inflacionário representa diversas receitas de imposto inflacionário (II) que podem ser coletadas em pontos de equilíbrio sobre a curva de demanda de moeda, isto é, pontos onde a inflação esperada é igual à inflação observada. O fato de a economia estar além do ponto de máximo desta curva não é um desequilíbrio nem exige que o governo emita cada vez mais chegando a hiper. Pode estar numa situação desconfortável, com um imposto inflacionário igual ao que poderia ser obtido com outra taxa de inflação menor. Mas não é desequilíbrio nem leva a hiper.
Franco argumenta que o déficit fiscal poderia gerar hiperinflação se fosse maior do que qualquer ponto da curva de receita total de II. Ou seja, se o déficit público estivesse acima da curva de receita total. Neste caso, o governo emitiria cada vez mais e recolheria cada vez menos II.
O mesmo argumento poderia ser apresentado de outra forma.
II= (M/P)vezes a inflação esperada.
GS=(delta M)/ P onde GS é o ganho de senhoriagem.
Quando a inflação esperada é igual à observada, delta M/M é igual à inflação observada e substituindo em 19, II= (M/P).(delta M/M ). Simplificando, II=GS quando a inflação esperada é igual a observada.
Se a inflação esperada for maior do que a observada, o imposto inflacionário é menor do que o ganho de senhoriagem. Se a inflação esperada for menor do que a observada, II será menor do que GS.
Ainda em outras palavras: se a emissão de moeda provocar uma expectativa de inflação maior do que a inflação observada, o imposto inflacionário será menor do que o ganho de senhoriagem. O governo emite 100 e o imposto inflacionário é 80, por exemplo. Emite mais ainda, 200 e o imposto inflacionário é 90. Ou seja, ao emitir mais arrecada menos imposto inflacionário. Neste caso, temos hiperinflação, neste caso estamos acima da curva de receita total de II.
Usando os dados de Cagan, Franco mostra que apenas em alguns casos de hiper chegamos a esta situação. Na maioria dos casos analisados, II era maior do que GS e portanto a hiper não podia ser atribuída a excesso de emissão ou ao déficit público.
Franco conclui que o fim da hiperinflação resultou da estabilização da taxa de câmbio o que foi possível apenas depois de uma renegociação dos pagamentos de reparação da Alemanha com os Estados Unidos, o país que tinha reservas em ouro e emitia a a moeda que já passava a ser a a moeda mais importante da economia mundial.
A analogia com a situação dos países da América Latina depois de 1982 é evidente. O controle da superinflação destes países só foi possível após a renegociação da divida externa e a fixação da taxa cambial.
A discussão na América Latina e no Brasil se deu nos mesmo termos. Alguns economistas diziam que a inflação só seria controlada depois de uma reforma fiscal. Outros diziam que o controle do déficit público só seria possível depois que a inflação fosse controlada. Pois a inflação reduz o valor real dos impostos arrecadados.
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