quarta-feira, 25 de abril de 2012
Aula 12 Monetaristas versus Estruturalistas
1) Milton Friedman afirmava que a inflação era um fenômeno monetário. Estava certo—o crescimento do nível geral de preços, isto é, do preço médio de todas as coisas ou do poder de compra do dinheiro—é um fenômeno que afeta o dinheiro. Do ponto de vista retórico, esta afirmação pretendia ser interpretada como a causa da inflação é monetária, isto é, um crescimento excessivo da oferta de meios de pagamento.
2) Na discussão da hiperinflação alemã, vimos como ela pode ser controlada pela fixação de um preço, a taxa de câmbio, que então possibilitou o controle do déficit público. Ou seja, a estabilização de um preço importante do ponto de vista macroeconômico, estabilizou a taxa de inflação.
3) O conceito de inflação de custos, por outro lado, coloca os preços determinados em mercados específicos como o fator mais importante do fenômeno inflacionário. Embora os monetaristas argumentassem que a “indisciplina” no processo de fixação de preços resultasse da passividade da oferta monetária. Isto é, decorria da atitude do governo que financiava a pressão por aumento de preços com expansão da liquidez.
4) Taxa de câmbio e outros preços importantes são portanto trazidos a discussão sobre a inflação, colocando a oferta de meios de pagamentos numa posição secundária.
5) Na aula de hoje, discutimos o artigo de Julio Olivera citado na bibliografia que apresenta uma “tradução” da teoria estruturalista da inflação para a “língua neoclássica”.
6) Olivera pretende explicar porque no período 1945-1980 os países latino americanos sofriam uma inflação latina—alta, permanente e crescente. Enquanto os Estados Unidos e Europa viviam a “creeping inflation” e nos países pobres do Sul da Ásia ( pobres naquele período) e da África não havia inflação.
7) Existem dois processos típicos de formação de preços. Nos setores competitivos—que produzem produtos homogêneos, de tecnologia conhecida, sem barreiras a entrada e onde existe um grande número de produtores—os preços não podem ser controlados por nenhuma empresa individualmente. Neste caso os preços são flexíveis e variáveis, respondendo com rapidez ao aumento ou redução da oferta de meios de pagamentos, ou a variações da renda nominal (YP). Nestes setores, funcionaria a teoria quantitativa da moeda.
8) Em outros setores, onde os produtos são diferenciados por marca, qualidade ou publicidade, ou onde existem barreiras a entrada por causa da tecnologia de produção ou por causa de economias de escala, o processo de formação de preços é controlado pelas empresas. Que fixam preços levando em conta os custos variáveis de produção sobre os quais fixam uma margem desejada de lucros, um “mark - up”. Nestes setores, variações de demanda nominal afetam mais a quantidade produzida do que os preços que são nominalmente rígidos. Entre estes setores funcionaria uma “economia keynesiana” onde variações de demanda afetam o emprego e os preços são nominalmente rígidos.
9) Agricultura, industrias tradicionais( como a agricultura, a indústria têxtil, vestuário, alimentação e outras) são setores competitivos com preços nominalmente flexíveis que amortecem a variação da produção e do emprego face a variações de demanda nominal.
10) O setor manufatureiro em geral, as indústrias com economias de escala ( siderurgia, automóveis, petróleo, química, etc) são setores com preços nominalmente rígidos, onde as variações de demanda agregada nominal afetam mais a produção e o emprego do que os preços.
11) As economias podem ser classificadas também em função de outras características dadas pela oferta. Estados Unidos e Europa teriam mercado onde existe maior mobilidade de fatores e elasticidades de oferta maiores. África e Sul da Ásia eram economias mais primitivas, com pouca mobilidade de fatores e onde a elasticidade de oferta é sempre menor. Ou, em outras palavras, seriam países onde a curva de possibilidade de produção tem convexidade mais pronunciada, ou custos mais crescentes quando se altera a composição do produto.
12) Podemos agora combinar estas duas características para criar uma taxonomia de inflações.
13) Estados Unidos e Europa têm uma grande participação do setor manufatureiro e de indústrias de ponta, isto é, a participação dos setores de preços nominais rígidos na economia é elevada. Sob este critério, uma variação de preços relativos (causada pelo aumento dos preços do petróleo, ou aumento de salários) criaria uma pressão inflacionária. Por outro lado, são paises com estruturas produtivas diversificadas, capazes de responder a aumentos de preço relativo pela substituição na produção ou no consumo. A inflação resulta do produto de variações de preços nominais decorrentes de um choque de custo (que é grande) vezes a variação de preços relativos ( que é pequeno) por que a variação necessária é menor, dada a alta elasticidade preço da oferta. Ou seja, inflação, mas inflação baixa.
14) África e Sul da Ásia teriam inflação resultante de grandes variações de preços relativos ( por que a elasticidade preço da oferta é baixa) multiplicada por pequena variação de preços nominais (porque nestes paises predominam os setores de preços competitivos (a agricultura) . Resultado—não há inflação.
15) A América Latina estaria numa situação intermediária. As variações de preços relativos são grandes por que a elasticidade de oferta é pequena (pouca mobilidade de fatores entre regiões, infra-estrutura inadequada) e participação elevada dos setores industriais. A combinação da presença de baixa elasticidade de oferta e alta participação de setores com preços nominais rígidos geraria a inflação latina. A América Latina seria um continente adolescente—suficientemente crescido quando se considera a participação da indústria com preços nominais rígidos na economia, mas ainda “infantil”quando se considera a flexibilidade do parque produtivo para substituir produtos caros por produtos baratos.
16) A inflação latina, entretanto, precisaria ser financiada por uma política monetária passiva , ou seja, ausência de instituições capazes de controlar a oferta de meios de pagamentos ( um Banco Central, por exemplo).
17) Por outro lado, como vimos na aula passada, a inflação de custos só é relevante se houver “propagação” ou indexação de preços ao nível geral de preços. Em outras palavras, se o valor do dinheiro for dependente da sua verificação, isto é, da comparação do seu valor com o nível gera de preços.
18) Na próxima aula, analisamos a taxa cambial como um preço especial já que assume papel importante na análise da inflação brasileira e da estabilidade da moeda nacional.
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