quinta-feira, 26 de abril de 2012
Aula 13 Não existe inflação de custo
A idéia de inflação de custos é criticada de duas formas. Primeiro, os monetaristas afirmam que ainda que existam variações de preços relativos, não haveria inflação se a política monetária não “ratificasse”a rigidez dos preços nominais emitindo mais dinheiro. Depois, como estudaremos nesta aula, analisando quantitativamente quanta inflação pode ser gerada por aumentos de preços importantes como salários, preço do petróleo ou variação da taxa cambial.
A aula está baseada no artigo de Brainard e Lowell mencionado na lista de leitura.
A questão é saber qual o impacto do aumento de preço de um produto isolado em todos os demais preços da economia. O preço do petróleo, por exemplo, afeta o preço dos transportes, da energia e, portanto de todos os outros preços da economia. Deveria ser importante para explicar os preços de todos os outros produtos e, portanto da inflação.
Para esta análise vamos usar o modelo de Leontieff que analisa a interrelação entre a produção de todos os bens da economia. Cada bem produzido pode ser utilizado como input de outros bens e como produto final. Assim, o aço é insumo da produção de automóveis, geladeiras, construção civil, etc. e ao mesmo tempo é utilizado como produto final quando é estoque para ser usado nos anos seguintes ou quando é exportado.
Leontieff supõe que todos os produtos sejam insumos de outros produtos e produtos finais para consumo, investimento ou exportações. E cada produto usa uma determinada quantidade de trabalho.
A produção é a coeficientes fixos. Aij é a quantidade fixa do produto i utilizado na produção de uma unidade do produto j.
A demonstração matemática será dada em aula e apresentada de forma imperfeita em nota a baixo.
Os resultados importantes são
O aumento de um por cento no preço do produto x causa um aumento de um por cento vezes a participação da produção bruta ( produção final mais intermediária) no produto nacional bruto.
Exemplo: se a produção total de petróleo representa 10% do produto nacional, um aumento do preço de 10% no preço do petróleo causa um aumento de dez por cento de dez por cento, um por cento , no nível geral de preços quando se consideram os efeitos diretos e indiretos do aumento de preço inicial.
É um resultado muito baixo, não explica a importância do petróleo.
O aumento final será ainda menor se alguns setores forem competitivos e não conseguirem repassar o aumento do preço do petróleo.
Portanto, levando em conta o impacto direto e indireto de um aumento de preços sobre os custos, o resultado final de um aumento de preço não explica a inflação. Não vale a pena controlar preços.
Entretanto, se algum preço, os salários por exemplo, exigirem correção em função do poder de compra, isto é, do nível geral de preços, um aumento de custo qualquer será multiplicado por um número igual a 1 sobre 1- a participação deste produto na produção final.
Em outras palavras, se algum setor for indexado, o aumento de qualquer preço gera um aumento de preço geral muito maior.
No limite, se todos os preços forem indexados, um aumento em qualquer preço pode gerar inflação infinita.
Para que a inflação não vá ao infinito é preciso que alguns preços pelo menos sejam rígidos nominalmente.
A inflação de custos, isto é, causada pela variação de algum preço isolado, só é importante se houver indexação ou, propagação como este efeito era chamado pelos estruturalistas.
NOTA
Foram omitidas as notações de matriz.
1) O modelo de Leontieff para quantidades
Dois produtos, x1 e x2.
x1=x11+x12 + y1
x1 é a produção bruta, isto é, a produção destinada a produção de x1 mesmo e de x2, ou seja, x1 tem dupla contagem. A produção final de x1 que pode ser destinada ao consumo, investimento ou exportação é dada por y1
parcelas da produção de x1 que são usadas na produção de x1 mesmo e de x2, respectivamente.
A mesma coisa para X2
x2=x21+x22
Hipótese sobre a produção de x1 e x2 – coeficientes fixos, isto é
a11=x11/x1 ou x1=a11.x11 e em geral
aij=xij/xj
x1 usa L1 de mão de obra e x2, usa L2
Escrevendo em termos de matriz
x1 a11 a12 x1 y1
= +
x2 a21 a22 x2 y2
e
x1
vezes L1 L2 =L
x2
ou
x=Ax+y (1)
e xL=L
onde x é um vetor coluna, A é a matriz de coeficientes técnicos e y é o vetor coluna de produtos finais.
e L é o vetor linha de coeficientes de trabalho utilizado para cada produto e L o total de trabalho disponível de trabalho para a economia.
Podemos reescrever (1) assim
(I-A)x=y ou seja, a produção final é dada pela matriz identidade I , menos a matriz de coeficientes técnicos.
e para saber quanto devemos produzir em termos brutos de cada produto, basta resolver para x, isto é,
-1
x=(I-A) .y isto é, a matriz I-A invertida vezes o vetor y.
2) O modelo de Leontieff para preços.
Supomos que cada produto gera uma margem de lucro dada por m1 para o produto x1 e m2 para x2.
o preço de x1 é dado por
p1=a11p1+a12p2+wL1+m1
p2=a12 p1+ a22p2 +wL2+m2
ou seja, o preço de p1 é igual aos custos de produção dados pelos coeficientes tecnicos de utilização de x1 e x2 vezes os respectivos preços unitários, mais o salário w vezes o coeficiente de mão de obra mais um margem m1.
Em termos matriciais, podemos escrever o vetor de preços como
p(I-A)=w.L+m
-1
p=(wL+m) (I-A)
onde p é um vetor coluna de preços e m um vetor coluna de margens.
Resolvendo para p temos
-1
p=(wl+m) (I-A) ou seja o vetor de preços é dado por (wl+m) vezes o inverso de (I-A)
3) O deflator implícito do produto pode ser definido como
p= py/p0.y isto é o valor do produto nacional py medido a preços correntes sobre o valor do produto nacional a preços do periodo iniciaal, p0.
-1
podemos escrever py=p=(I-A)x=(wl+m)(I-A). (I-A)x= (wL+m) X
4) A derivada de py/p0.y com relação a qualquer margem , levando em conta os efeitos diretos e indiretos é dada por xi/po.y isto é pela participação da
produção bruta do produto cujo preço foi aumentado no produto nacional.
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