quinta-feira, 1 de março de 2012

NOTICIA SOBRE EFEITO DO CRESCIMENTO DAS RESERVAS SOBRE O BALANÇO DO BANCO CENTRAL

Investimento direto pode ter 'pedágio'
Por Claudia Safatle | De Brasília
Aumentaram e muito as preocupações do governo com a valorização do real frente ao dólar e estão em estudos novas medidas cambiais. Após taxar o mercado de derivativos em julho do ano passado, onde identificava forte especulação de fundos de hedge, a área econômica agora coloca o foco nas empresas multinacionais, que estariam aplicando no país parte relevante de seus caixas ou, ainda, tomando empréstimos a juros muito baixos no mercado internacional para investir no Brasil à taxa Selic, de 10,5% ao ano.
Em geral, essas são operações travestidas de investimento estrangeiro direto (IED), mas que acabam indo desaguar nas aplicações financeiras. Estariam fora da mira do governo, segundo garantiram fontes oficiais, tanto restrições a aplicações de estrangeiros em bolsas de valores quanto os investimentos diretos legítimos.
Uma forma de barrar essas operações (que entram no país como IED, mas não se transformam em projetos produtivos) seria por meio da cobrança de um "pedágio" das empresas enquanto os recursos estiverem parados em aplicações financeiras. Ou, ainda, só permitir o ingresso do investimento gradativamente, à medida que ele for executado, segundo sugerem fontes oficiais.
Voltou também à mesa do ministro da Fazenda, Guido Mantega, a proposta de começar a usar o Fundo Soberano para comprar dólares que entram no país, numa ação conjunta com o Banco Central. Reforçado com moeda estrangeira, o fundo poderia até comprar empresas no exterior, hoje bem mais baratas. Embora o fundo disponha de algo próximo a RS 20 bilhões em caixa, não há limite para sua ação na área cambial. O Tesouro está autorizado a emitir títulos para prover o fundo soberano de recursos.
"O senso de urgência com esse assunto é grande", indicou outra fonte do governo. Não é possível, na avaliação do Ministério da Fazenda, ficar assistindo à crescente entrada de moeda estrangeira no país, com todo o custo fiscal de sua esterilização, sem fazer nada. O cronograma de iniciativas do governo começou com a compra de dólares no mercado à vista e por swaps, pelo Banco Central, mas além de insuficientes, na visão de economistas do governo, essas ações trazem custos fiscais.
O saldo das operações compromissadas cresceu R$ 112 bilhões entre dezembro e janeiro e chegou a R$ 424,5 bilhões, em grande parte por causa da esterilização das reservas cambiais. Essas operações colocam no mercado títulos da dívida da carteira do BC para enxugar a liquidez, com compromisso de recomprá-los na data contratada. Em geral, são papéis com prazo muito curto, concentrados em até dois meses. A acumulação de reservas, portanto, aumenta a dívida bruta federal, que passou de 54,3% do PIB em dezembro para 55,1% do PIB em janeiro.

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