quinta-feira, 1 de março de 2012

Aula 2 - O processo de criação de moeda

Aula 2- A oferta de moeda.

A DEFINIÇAO DE MEIOS DE PAGAMENTOS.

1Esta é a primeira aula de revisão. Começamos pela defnição de moeda e pelo processo de criação de moeda.
Moeda é definida convencionalmente como M= Papel Moeda em Poder do Publico(PMPP) + Depósitos a Vista.(DV)
A definição convencional soma todos os ativos ( as posses, as propriedades) mais líquidas da economia.
Liquidez é o atributo de um ativo qualquer relacionado a facilidade com que o ativo é trocado por outro a determinado preço. Mais específicamente: dada a intenção de vender um ativo ( um automóvel ou uma casa) e um preço desejado de venda, quanto menor o tempo necessário para encontrar um comprador a este preço, mais liquido o ativo.
Assim, se desejo vender minha casa por 100 mil reais , publico um anuncio hoje, no momento t e preciso aguardar até o tempo t+A para que apareça um comprador disposto a pagar 100 mil. A casa tem caracteristicas especificas-- localização, número de comodos, data de construção -- que não são adequadas para todos os potenciais compradores. é preciso esperar o tempo A para que apareça um comprador que deseje comprar a casa e ache o preço aceitável. Um imóvel é pouco líquido.
Um automóvel é mais liquido do que uma casa, pois tem uma marca conhecida pelos compradores, mas tem uma data de fabricação, um estado de conservação e é preciso esperar um tempo B para que apareça um comprador que aceite o preço pedido.
No caso do dinheiro , uma nota de 100 reais vale 100 reais , é homogenea pois todas as notas de cem reais são iguais e uma vez que a apresento para “ venda”, para ser trocada por alguma coisa, o preço da nota de cem reais é aceito imediatamente, não há tempo de espera para encontrar um “ comprador” de notas de cem reais. Além de o dinheiro ser aceito pelo seu valor de face sem discussão espontaneamente , por convenções social ( excluindo momentos de crise monetária aguda) , o dinheiro tem esta caracteristica de liquidez garantida por lei. O real ou o dólar são os instrumentos legais de liquidação de qualquer divida e de todas as transações de troca. O vendedor é obrigado a aceitar reais pelo pagamento da mercadoria que colocou a venda.

Para analisar o processo de criação de moeda, começamos pela análise do balancete do Banco Central. Vamos apresentar o balancete de um banco central dos anos 80 , um banco central de livro texto. Não exisitam bancos centrais antes no século XIX embora existissem bancos que cumprissem algumas ou varias funções de banco central - o Banco da Inglaterra, o Banco da França, o Reichbank, o Banco do Brasil. Nos Estados Unidos, o Federal Reserve foi criado apenas em 1913.
Entre 1871 ( fim da Guerra Franco Prussiana) e 1918, o mundo operava com uma moeda mercadoria. O dinheiro era o ouro. É a época do padrão ouro. Entre 18 e 45, as economias mais importantes do mundo ocidental tentaram voltar ao padrão ouro, mas o retorno a este tipo de dinheiro foi marcado por varias crises, inclusive a Grande Depressão dos anos 30.
Atualmente, o dinheiro vem sendo substituido por dinheiro plastico-- cartoes de credito e debito- e trabalhamos com uma moeda de puro credito, onde o dinheiro-- a nota de 50 reais que temos no bolso-- é usada apenas para pequenas despesas ou em lugares que não tem acesso a um sistema eletronico de pagamentos. Portanto, o papel moeda tem uma importância menor nos dias de hoje do que nos ultimos cincoenta anos.
No livro texto, é apresentado um banco central que controla a quantidade de dinheiro fiduciário ( aceito por confiança que todos tem no dinheiro) .
O BALANÇO DO BANCO CENTRAL

O balancete do Banco Central : no passivo temos os ecursos que financiam as atividades do banco central. O Banco Central se financia emitindo papel moeda. ( imprimiu, numerou e obteve a assinatura do presidente do Banco Central e do Ministro da FAzenda). Uma parte do papel moeda emitido é mantido no caixa do proprio Banco Central. O restante é usado para pagar as propriedades, os ativos que o Banco Central compra. O que sai do banco central é chamado de papel moeda em circulação. Assim, temos
Papel moeda emitido(PME) - Caixa do Banco Central ( CAM) = Papel Moeda em Circulação ( PMC)

O PMC é utilizado pelo Banco Central para que ele exerça suas funções comprando ativos .
No ativo do Banco Central temos: o dinheiro que emprestou ao governo ( os titulos da divida publica). O Banco Central é o banco do governo assim como o banco X é o seu banco. Assim ele financia o governo que lhe dá em troca do dinheiro recebido promessas de pagamento que rendem juros e serão pagas em uma data futura-- os titulos da divida publica.
O Banco Central é o banco dos bancos. Ele empresta dinheiro para os bancos privados caso. Compra créditos que os bancos tem a receber. Esta compra tem o nome de “ redesconto” ( o Banco Central redesconta, isto é , troca o titulo de credito privado de propriedade do banco privado, que é uma promessa de pagamento de uma empresa ou individulo por dinheiro).
Se a taxa cambial for fixa, o Banco Central compra e vende qualquer quantidade de dolares ou euros a um preço fixo. Para que desempenhe esta função, precisa comprar e reter uma quantidade grande de moedas estrangeiras. Assim, outra propriedade ou ativo do Banco Central são as reservas de divisas.
Assim, temos que o passivo= PMC é igual a soma de todos os ativos: titulos da divida publica+ redescontos+ reservas de divisas.
O PMC é também chamado de Base Monetária ou Passivo Liquido do Banco Central.
Passivo liquido significa que o banco central é obrigado a pagar imediatamente, a vista, a divida que tem , ou seja paga a nota de cem reais que voce apresentasse ao banco central imediatamente. Pagaria com outra nota de cem reais, ou com duas de cincoenta se voce quiser!
Em ingles a Base Monetaria é chamada de High Powered Money , ou dinheiro de alta potencia. é na realidade a ultima troca que pode ser feita entre ativos financeiros, o porto de destino das trocas- o dinheiro. Não se pode trocar o dinheiro por nada mais liquido ou de menor risco que o dinheiro.
A Base Monetária ou o PMC é recebido pels bancos que guardam uma parte no seu proprio caixa, as reservas voluntarias (RV) e são obrigadas a guardar uma quantidade minima de dinheiro no banco central , as reservas compuslórias (RC).
Assim, o PMPP, o papel moeda em poder do publico não bancario é igual ao
PMPP=PMC-(RV+RC)
O BAnco Central controla apenas a Base Monetaria, PMC que chamaremos de B a partir de agora.

O MULTIPLICADOR DA BASE MONETARIA

Como controlando B pode controlar a oferta de moeda M= PMPP + DV ?
Uma forma simples de descobrir esta relação entre base monetaria e oferta de meios de pagamentos é a seguinte
suponha que os bancos mantenham uma proporção constante dos depositos a vista que recebem como reservas voluntarias ou compulsorias, isto é,
(RC+RV)= a. DV
e que o publico mantenha uma proporção fixa dos depositos a vista como papel moeda ou PMPP
PMPP=b.DV

então M=PMPP + DV= a.DV+DV= (1+a) DV

23) A base monetaria B é igual ao PMC= (RV+RC) + PMPP=a.DV+b.DV= (a+b).DV
Entao M= (1+a) DV e B= (a+b) DV ou
M / B= (1+a)DV / (a+b) DV

ou M= [(1+a) / (a + b) ] . B

o multiplicador da base, isto é , o numero que relaciona a base monetaria a oferta de meios de pagamentos é dado por

(1+a) / (a+b)

Se ninguem depositasse dinheiro no banco , isto é , se b=1, a oferta de meios de pagamento seria dada pelo papel moeda emitido menos o caixa dos bancos privados e o multiplicador seria 1+a / 1+a =1 ., o multiplicador seria 1 e M= PMC, a oferta de meios de pagamento seria dada pelo papel moeda emitido menos o que ficou retido nos caixas do banco central e dos bancos privados .
Se os bancos privados não fossem obrigados a manter reservas compulsorias ou voluntarias , a =0 e o multiplicador seria 1/b. A oferta de meios de pagamento seria um multiplo grande do papel moeda em circulação, a base.

A CRIAÇAO DE DINHEIRO PELO SETOR PRIVADO

Precisamos agora, analisar como os bancos comerciais se comportam quando recebem um depósito, ou seja como a decisão de manter a dos depositos em dinheiro como caixa .
O banco privado recebe dinheiro como deposito a vista, isto é, como dinheiro que pode ser reclamado imediatamente pelo depositante. O depositante pode sacar o dinheiro em especie ou emitir cheques contra os depositos a vista.
Como o banco tem a confiança do depositante, este retira apenas uma parcela dos depositos a vista e utiliza cheques para fazer pagamentos. O banco privado sabe que o dinheiro não será retirado enquanto o depositante confiar na solvencia do banco, isto é, na sua capacidade de cumprir o prometido isto é pagar em dinheiro os cheques que nós emitimos contra os depositos a vista.
Por isto , o banco mantem apenas uma parcela pequena em caixa, a e aplica o restante na compra de ativos fazendo emprestimos, comprando titulos de credito privados ou publicos.
Assim, se um cliente depositar 100 reais no banco, ele mantem em caixa apenas a% de 100 e empresta (1-a)% do deposito realizado. Esta parcela emprestada se transforma em deposito de outro banco que mantem a% em caixa e empresta (1-a)% para outro cliente, que, por sua vez deposita em outro banco que tem o mesmo comportamento.
Portanto o deposito inicial de 100 cria depositos adicionais de (1-a) 100 num primeiro banco mais (1-a)(1-a) no segundo banco, mas (1-a)ao cubo no terceiro banco e assim por diante. O deposito de 100 inicial gerou uma soma com um numero infinito de parcelas cada vez menores de 100 . (1-a) é menor do que 1 , e (1-a) ao quadrado, ao cubo, a quarta potencia, a quinta , a sexta e potencia n são numeros decrescentes e menores do que um .
Apesar de ser uma soma de um numero infinito de parcelas, estas parcelas são cada vez menores e a soma tem um limite, dado pela soma de uma PG com numero infinito de termos e razão 1-a que é igual a
DV = 100/ a
Se a= 0,20, por exemplo, os 100 reais iniciais de deposito geram depositos totais no sistema bancario de 100/0,2= = 500.
Assim, a oferta de moeda depende tanto da base monetaria controlada pelo Banco Central como dos bancos comerciais através da decisão dos bancos em emprestar os depositos em emprestimos.
Na realidade o comportamento dos bancos ao fixar a e do publico ao fixar b depende da taxa de juros. Portanto a criação de meios de pagamentos depende das taxas de juros.
Se as taxas de juros forem muito baixas os banco emprestarao uma parcela menor dos depositos que detem e a assumirá um valor muito alto e a criação de deposito será pequena.
Depositos a vista não rendiam juros nos anos 60 do seculo passado. Portanto manter o dinheiro em papel moeda ou em depositos a vista não dependia da taxa de juros. Mas hoje existem formas de aplicação muito liquidas, concorrentes dos depositos a vista, contra as quais podemos emitir cheques para fazer pagamentos. Assim, manter o dinheiro no banco ou não tambem dependeria das taxas de juros e b = b(i) onde i é a taxa de juros.
O aluno deve ler o artigo do Tobin, Banks as creators of Money, mencionado na lista de leitura para completar esta exposição.

PADRAO OURO E DINHEIRO PLASTICO
Num sistema monetário onde a moeda é uma mercadoria, como o ouro no sistema do padrão ouro, as moedas de valor maior, são moedas de ouro . As moedas de pequeno valor , centavos, mil reis, usadas apenas para pequenos pagamentos eram moedas de metal menos valioso, como cobre por exemplo. Mesmo assim, havia um processo de multiplicação do “ ouro” depositado no banco central, se existisse ou nos bancos privados, já que estes retinham uma quantidade de ouro menor do que a depositada nos seus cofres e emprestavam ou aplicavam o restante.
Atualmente , a moeda é fiduciaria baseada em creditos contra o setor privado ou contra o setor publico.
Numa economia que não usa ou usa menos o dinheiro fisico, substituido pelo dinheiro de plastico, cartoes de credito ou debito, o dinheiro “ de verdade” não aparece nas transações. É substituido por creditos ou debitos eletronicos. Assim, o ouro foi substituio pela moeda fiduciaria, com o fim do padrao ouro e a moeda fiduciaria está sendo substituida por lançamentos contabeis feitos por sistemas eletronicos.
Esta modificação torna mais frágeis e instaveis as relações entre base monetaria e meios de pagamento ou seja , a e b das demonstrações anteriores são valores instaveis .
Antes dos anos 80, as propostas de politica monetaria dos monetaristas ( Friedman, por exemplo) eram de controlar e fixar metas para o crescimento da base monetaria. Hoje, as propostas de politica monetaria se referem a controle da taxa de juros de curto prazo , como instrumento de maior eficacia para controlar a liquidez da economia ou as expectativas, como veremos durante o curso.

NOTA DIDATICA

Nos exercicios que faremos como parte da revisão do modelo IS- LM, de alteração na politica monetaria ou na politica fiscal é preciso estar atento para o fato de que a politica fiscal pode alterar a politica monetaria e vice versa.
Os recursos que o governo tem para gastar G são dado pelo montante de impostos arrecadados T mais os emprestimos que pedem o Banco Central representados pela variação da divida publica , ou seja , G= T + Acréscimo da Divida Publica. Assim, quando o governo gasta mais do que arrecada, há um crescimento da divida publica que o Banco Central precisa financiar aumentando o passivo do banco central, isto é a base monetaria. A politica fiscal afeta a politica monetaria.
Para evitar este efeito e não misturar politica monetaria e fiscal, precisamos definir politica fiscal pura e politica monetaria pura.
A politica fiscal pura, o governo aumenta a sua divida, o banco central vende titulos que tem em carteira para o setor privado para evitar o crescimento da base monetaria.
Na politica monetaria pura, o banco central vende ou compra titulos publicos que tem na carteira, sem colocar mais recursos a disposição do Tesouro.
A definição tem apenas importancia analitica ou didática para que possamos analisar os efeitos de uma politica monetaria ou fiscal separadamente.

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